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[REVIEW] Vale a pena logar para Keep Driving?

29/12/2025 por Juliana Bolzan


Tela inicial do jogo Keep Driving

As premiações de jogos têm levantado torcidas animadas ou raivosas que mais parecem com organizadas de futebol se odiando irracionalmente. Não consegui escapar totalmente dessa onda, mas tento fazer nessa época o mesmo que faço com premiações de filmes e livros que sigo: aproveitar para conhecer o máximo que eu puder. É difícil acompanhar todos os lançamentos do ano, principalmente de jogos indies, e as premiações são um prato cheio para nos direcionar aos que se destacaram.


Keep Driving é um desses casos, que entrou no meu radar ao ser indicado a melhor jogo no The Indie Game Awards (temos no site análises de outros indicados: Pipistrello  and The Cursed Yoyo, Clair Obscur: Expedition 33, Citizen Sleeper 2 e Consume Me). Ele também concorreu a design de gameplay na mesma premiação e a melhor indie autopublicado no Golden Joystick Awards. Lançado em fevereiro de 2025, foi desenvolvido pela dupla Christopher Andreasson e Josef Martinovsky, do estúdio sueco Y/CJ/Y. Localizado em Gotemburgo, compartilha a mesma cidade sede do River End Games, que também lançou esse ano o excelente Eriksholm The Stolen Dream. Ambos homenageiam a arquitetura local em suas caprichadas ambientações, e Keep Driving vai além ao trazer em sua trilha sonora somente bandas gotemburguesas de indie rock. E nada melhor do que uma seleção acurada de músicas para colocar o pé na estrada.


Cidade em Keep Driving e roda de ações

Como pode um jogo se sustentar com o conceito simples de pegar o carro e dirigir até um festival? Criatividade. E muita. Na primeira tela você pode escolher seu gênero, nome, ocupação e o kit inicial para a empreitada. E mais importante de tudo, a dificuldade do jogo, baseada em quão bom é seu relacionamento com seus pais! Afinal, na hora do aperto, isso será crucial para receber ou não uma ajudinha nessa tarefa irresponsável. Você precisará gerenciar quatro recursos: sua energia, a gasolina, o estado geral do carro e seu escasso dinheiro. E nada disso é trivial: o jogo termina quando qualquer um dos três primeiros se esgotar, o que pode acontecer até fora de combate.


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E aqui está o ápice da criatividade do jogo: o combate de turno, com eventos comuns que encontramos em estradas: um caminhão grande na sua frente, um carro colado na sua traseira, uma árvore caída, um radar de velocidade. Cada evento apresenta ameaças que podem atacar seus recursos naquele turno e exigem o uso das habilidades que você desbloqueia ao longo da jornada ou de itens do seu porta-luvas. É muito gostoso pensar na estratégia do que utilizar, do que proteger ou do que deixar ser danificado. E não para por aí: seu estado de espírito influenciará diretamente no combate: se você está feliz, tem um turno a mais; se está com fome, um turno a menos; se está estressada, as habilidades custarão mais e por aí vai. Por isso é essencial se preparar nas cidades e vilarejos para não pegar a estrada de qualquer jeito. Às vezes um desvio no caminho te assegurará um posto de gasolina com um mercadinho para se abastecer de suprimentos importantes.


Habilidades no combate de turno de Keep Driving

É muita coisa para se pensar e passar sozinho! Keep Driving não te deixará na mão: de tempos em tempos, em algum acostamento ermo, um caroneiro acenará e ficará a seu critério aceitá-lo para compartilhar seu trajeto. Cada um tem uma personalidade única, com habilidades que exigirão sua adaptação quando combinadas com as suas ou com as de outros caroneiros. Eles também ganham experiência e novas ações, mas nem tudo são flores: intimidade demais é uma merda! A cada aumento de nível, uma característica ruim do caroneiro é revelada, e ou você aprende a lidar com ela ou expulsa o folgado do seu carro. Os caroneiros interagem entre si, provocam situações inusitadas como dormir no meio do combate ou parar toda hora para fazer xixi, e possuem histórias próprias que me fizeram esquecer do destino final por muito tempo.


Caroneiros em Keep Driving

E foi em uma dessas missões paralelas que sofri um baque: Keep Driving é um roguelite! Em minha defesa, meu fracasso aconteceu após 3h de jogo, então as runs podem ser demoradas, o que condiz muito bem com a sensação de uma longa viagem de carro. Os caroneiros aparecem aleatoriamente, o que torna ainda mais estratégico aprender como combinar as habilidades deles. O mapa e os recursos em cada localidade também se modificam a cada jogada. Mas como um bom rogue, as melhorias que você faz no carro e as árvores de habilidades permanecem disponíveis. Também são incluídas novas ocupações e kits no início do jogo a depender de missões que você termina ou de finais que você alcança. Não consegui largar o jogo até completar todas as opções. Os finais são simples, um pequeno texto resumindo o que aconteceu naquele caso específico. Mas a sensação foi sempre de dever cumprido e sorriso no rosto: era isso que dava pra fazer, após quilômetros e quilômetros de perrengues.


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O jogo peca um pouco na explicação dos comandos e do que você pode acessar, então aconselho prestar atenção nos detalhes da tela, seja no carro ou nas lojas. Frequentemente há mais de uma aba disponível, e até descobri-las, dirigir foi mais custoso do que precisaria. Todas as missões possuem um prazo para execução, mas o calendário é bem generoso, servindo mais como um “não se perca demais por aí” do que algo punitivo.


Lojinha de alimentos em Keep Driving

Keep Driving está disponível apenas na Steam, pelo preço de R$55, traduzido para português, sendo um belo exemplo de como as premiações podem nos apresentar jogos incríveis que nem sabíamos da existência. A magia do videogame é essa, basta escolhermos viver momentos incríveis com uma miríade de criatividade que nenhuma outra mídia consegue nos dar. Estou mais do que feliz por ter adquirido um computador esse ano. Se preço acessível e disponibilidade de indies está aqui, aqui estarei. Valeu muito logar para Keep Driving: seus lindos gráficos e animações pixelados, as excelentes músicas suecas, o combate divertido e as histórias ao longo da estrada me fizeram sentir em um delicioso filme da Sessão da Tarde. Calibre os pneus, pegue suas tralhas, ajuste o retrovisor e sinta o vento no rosto!



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